quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Multiplicidade de sentimentos e Aula de história em 261 páginas

Emoções, sentimentos dos mais variados e junto com eles um maior entendimento da formação da esquerda, do exército e seu poder, das idéias e ideais da época, da revolução, da tortura, da repressão. Uma aula de história contada por quem viveu e assistiu a ditadura como personagem.
A dor, o sofrimento, a humilhação sofridas naqueles porões não é mais percebida nos traços do professor de jornalismo Álvaro Caldas algumas décadas depois. Mas, ela está ali e se faz presente em cada página daquele livro. Cada vez que alguém “tira o capuz” e mergulha nesse período da história brasileira, os portões do DOI -CODI são abertos e toda a atmosfera é revivida.
O autor é um dos protagonistas da tragédia política ocorrida no Brasil. Sob a forma de romance / reportagem o jornalista narra com lucidez e emoção, inteligência e sensibilidade o período pouco conhecido na sua particularidade. O autor consegue transmitir ao leitor, sem cortes e edições, o que sentiu e viveu sem reduzir seu texto a um mero depoimento passional.
Com o distanciamento necessário, usa sua própria experiência e a objetividade jornalística para analisar e contar a trajetória da luta armada contra a ditadura. O momento de maior aflição e agonia se dá na narrativa das torturas. Não dá para não se envolver e comover com tudo. A forma como está exposta toda a realidade nua e crua causa um embrulho no estômago, mas é o impacto logo no início da obra que possibilita toda a reflexão que se segue.
As ações e aventuras a bordo do “gigante da Colina” (o fusca), os encontros nos “aparelhos”, as reuniões, o movimento estudantil, as visitas de sua mulher Suely, o nascimento de sua filha na clandestinidade, a militância no Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), a tortura, a prisão no Regimento Sampaio e toda a conjuntura dos anos 70 estão dispostos e divididos em 10 capítulos, organizados por assuntos afins, costurados e resgatado por lembranças. O vai e vem da história contada dá ritmo e dinamismo à leitura.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

dúvidas e mais dúvidas

Pensando na aula de jornalismo e instigada por questões freudianas me pus a refletir sobre qual será o futuro do repórter. Não almejo ser uma “provedora de conteúdo”. Não quero que o repórter se torne um fofoqueiro do cotidiano. Massa crítica, análise, foco, destaque, ângulo, visão e perspectiva de trazer consciência ao povo. Minha missão não é contar aos outros o que está acontecendo no Brasil e no mundo. Não pode ser. E por mim não será. Fazer história? Quem sabe.
Para concretizar as dúvidas e incertezas que cercam esse mundo globalizado, do mercado, do profissional multimídia, do abalo global, das crises, das bolhas, da política, do consumo, Carlos Alberto Di Franco - ontem na página 7 do Globo – aumentou o nó que agora já não sei mais desatar.
Exigem de nós, aspirantes a jornalistas uma maior qualidade na apuração, um aprofundamento e numa corrente oposta nos é imposto um profissional multifacetado, informado – que possa fazer matéria para o jornal, rádio e tv – pensando na linguagem, no tamanho, no tempo. Como agregar qualidade, entrevistas cara a cara, textos bem feitos se tudo precisa sair no mesmo segundo que acontece?
É impossível e improvável que haja um profissional capaz de desempenhar com habilidade e perfeição tamanha lista de tarefas e ainda sim possa ser um jornalista de grandes reportagens. É simples: não dá.
Por tudo isso vejo que os bons, aqueles que chegaram lá, foram reconhecidos são poucos e raros. Jornalismo de qualidade demanda pessoal e tempo. Jornalismo de hoje não tem mão de obra e muito menos tempo. E aí? Pra onde vamos?
Na teoria é lindo, mas na prática é duro.
Quero escrever para o leitor que Carlos Alberto disse em sua coluna existir- aquele que quer algo mais, não o que ele pode conseguir na televisão ou na internet.
A civilização é feita pela linguagem. É pela via de representação que o ser humano suporta a angústia de viver a cada dia. Não dá para pensar num futuro tão brochante. Não dá para não revestir de sentidos, signos para no fim das contas se transformar num mero “provedor de conteúdos”.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

34 motos, 27 câmeras 2 cafés e muita mulher

O que seria uma entrevista despretensiosa se tornou uma tarde inteira de muita conversa - desde fotografia, vocação, carreira e famosos até tatuagem, comida e analise.
No almoço Ernani d’Almeida pediu Cesar Salad com frango e suco de manga, contando o seu primeiro click. Aos 16 anos, com uma Pentax Spot 500 emprestada, fotografou uma prima para assim se aproximar da menina – na época era muito tímido.
Apaixonado por motos, já teve ao todo 34, fez vestibular para Engenharia – achando que ia mexer com a mecânica. Percebeu que não era sua praia e cursou Comunicação Visual e Desenho Industrial na PUC-Rio. Faltando dois períodos para se formar nas duas cadeiras- fazia as faculdades simultaneamente – largou tudo. “Foi uma estupidez da idade”, disse Ernani arrependido.
A primeira vez que ganhou dinheiro com fotografia foi quando trabalhou com o fotógrafo e cineasta Ricardo Nauemberg – na época seu colega de faculdade. A foto foi das filhas do Evandro Carlos de Andrade – diretor da TV Globo e do Jornal O Globo. Nesta mesma época teve certeza da sua vocação. “Foi saindo do antigo PAX em Ipanema, depois de ver Os olhos de Laura Mars que tive certeza que era isso que eu queria, eu queria ter um japonês trocando o diafragma pra mim (nas câmeras antigas o diafragma era manual), como no filme”.
Trabalhou na Manchete, na Desfile, no JB, na Caras, na Quem e hoje faz freelancer para Abril e trabalhos como o Paparazo. O escorpiano admira o fotojornalismo, mas não faz esse tipo de trabalho – “acho que nunca tive a rapidez necessária para ser um bom fotojornalista, a capacidade de perceber e isolar a notícia no tempo certo”.
Sua trajetória sempre esteve ligada ao trabalho com luz controlada, com gente e basicamente mulheres. Fez duas ou três matérias grandes de fotojornalismo, mas foram coincidências, acabou fazendo moda, sua formação é essa: moda e estúdio.
“Eu sou capaz de levar a pessoa a fazer o que quero, mas em situações absolutamente controladas, e normalmente mais a mulher do que os homens. Eu odeio o mundo real – quando eu dirigo uma foto e monto aquele ambiente eu crio o meu mundo minha realidade”.
Apesar de captar belas imagens masculinas, Ernani sente que não consegue construir uma imagem desejável de homens como consegue das mulheres. Para o fotografo, por ser homem, ele consegue captar movimentos e expressões próprias do sexo feminino.
Depois do almoço, no caminho a editora Abril – para assinar os papéis e receber pelo trabalho – muitas histórias de viagens com a Caras. Em seis anos foram três passaportes e muitos clicks. Foi numa dessas viagens que tirou sua melhor foto. No Castelo de Caras, em Brissac, na França, a fotografada era a atriz Irene Ravache.
Rumamos para um estúdio de fotografia para conhecer uma tecnologia nova de luz e mais prosa. Photoshop era o assunto. Ernani contou que usa, mas com moderação, para acertar as cores e o mínimo no corpo da mulher. Preferia antes, mesmo dando mais trabalho – quando a correção era manual feita no cromo ampliado ou nas chapas de cores.
Hoje o fotografo diz que espalha a infelicidade. “As mulheres querem ser mulheres que não existem, os homens querem mulheres que não existem e as modelos photoshopadas têm que cumprir com aquilo que está na revista, que também não é ela. Enfim todo mundo sai infeliz”.
Seguimos para a exposição das fotos do Alécio de Andrade no Instituto Moreira Salles e terminamos a tarde de entrevista com um café no Cafeína. Ernani contou sobre seu futuro livro – Os dois lados da notícia – ele vai fotografar atrizes que nunca posaram nuas e repórteres, produtoras, editoras, diretoras de arte e maquiadoras, mulheres que ficam por trás das lentes.

ELEIÇÕES SURPREENDENTES

Ontem o resultado da eleição municipal carioca superou as expectativas das últimas pesquisas realizadas dias antes das eleições. Fernando Gabeira (PV) obteve 25,62% dos votos válidos. O candidato do PV e o peemedebista Eduardo Paes vão disputar no dia 26 a prefeitura do Rio.
Gabeira, em arrancada nas duas últimas semanas antecedentes à eleição surpreendeu até as melhores expectativas. Até 18 de setembro o candidato estava em 4° lugar e, em duas semanas subiu sete pontos, ficando com 18% das intenções de voto. Com 100% das urnas apuradas o ex-deputado ficou com menos de sete pontos de diferença para Paes – que obteve 31,98% dos votos.
Para o segundo turno, o que se pode esperar são as alianças e debates. Os dois candidatos afirmam que essa será uma disputa de alto nível. Eduardo Paes quer coligação com PRB, PC do B e PT. Gabeira disse estar conversando com o PSOL e pensa na aliança com o DEM.
É engraçado ver como na política tudo é válido – quem é de esquerda apóia o candidato de direita, quem é situação apóia a oposição. Resta saber se os eleitores de Jandira e Molon apoiarão Paes e os de Solange votarão em Gabeira. Tudo é possível considerando que no Rio até candidato na cadeia é eleito. A sorte está lançada e as fichas na mesa.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Chorei demais

O caçador de pipas é um livro que agrada a muitos – afinal é um best seller - e desagrada também – porque é um best seller - eu estou do lado dos que amaram e se debulharam em lágrimas.
Ao contrário da maioria, vi o filme e depois li o livro. Uma experiência não muito boa, pois todos os mistérios que envolvem a trama eu conhecia. Por outro lado não me frustrei com o filme. Mesmo assim sofri, chorei e me emocionei durante a leitura.
Envolvente do início ao fim é um romance do tipo hollywoodiano, mas que passa uma mensagem. A história de amor entre Hassan o empregado hazara e Amir o patrão complexado, poderia ter se transformado num dramalhão mexicano, mas foge do clichê e surpreende (aqueles que não viram o filme antes claro!).
Uma relação frágil - repleta de altos e baixos - assim como o movimento das pipas no ar. A amizade se torna tão dramática quanto o Afeganistão, palco da história. Se inicia na década de 70, ainda no período monarca daquele país, passa pela invasão soviética nos anos seguintes e se desemboca no terror do regime Talibã. Mais que um pano de fundo, a história sangrenta do Afeganistão é determinante na trama e em seu desfecho.
A amizade é posta em cheque a todo o momento e os valores daquele povo nos fazem pensar - lealdade, pecado, morte, honra, o que realmente importa?
Vale a pena em barcar!

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Que país é esse???

Que país é esse de notícias ruins nos jornais, de policiais que matam inocentes, de políticos corruptos e de um analfabeto como presidente?
Que país é esse de crianças nas ruas ao invés da escola, de malandros bons de samba e de meninos bons de bola?
Que país é esse de ruas esburacadas, engarrafamentos quilométricos e muitas mortes nas estradas?
Que país é esse que tem a Amazônia como bem precioso, o Cristo como maravilha e um controle de bebidas bem rigoroso?
Que país é esse que está nas Olimpíadas, que possui praias lindas de Norte a Sul e onde o funk já virou mania?
Que país é esse de pobres e ricos, culpados e inocentes, mortos e feridos?
Que país é esse? Não sei se consigo explicar. Só sei que é um país que ainda tem muita história para contar.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Resenha

A morte e a morte de Quincas Berro Dágua, é uma crítica azeda aos comportamentos burgueses. Misturando humor e ironia, narra a história de um funcionário público, pai e marido exemplar que ao se aposentar joga tudo para o alto e se transforma em um malandro que passa a viver entre a dita ralé de Salvador.
A trama desenvolve-se em torno de um povo simples e rude e é narrada numa linguagem que esse povo fala e entende. Neste contexto, Jorge Amado não preza o rigor e a técnica da construção literária, nem as normas gramaticais e ortográficas. Usa a linguagem oral, corriqueira, com expressões e termos regionais.
Descritivo ao máximo, mistura sonho e realidade; loucura e racionalidade; amor e desamor; ternura e rancor, de forma envolvente e instigante.
A drástica transformação do respeitado Joaquim Soares da Cunha no malando Quincas Berro Dágua representa o grito de um homem que vivia dominado e cerceado por preconceitos da sociedade burguesa e que um dia rompe as amarras e foge para a “liberdade”.
Cai na “vida”, no alcoolismo, na jogatina. Troca a família pelas prostitutas, bêbados, jogadores e contraventores. Sempre disposto a mais uma farra ou bebedeira. Ao adotar um novo estilo de vida, passa a ser mais feliz, respeitado e admirado entre seus novos amigos. Era o paizinho, sábio e conselheiro.
Ao renunciar à família, mudar de ambiente e de costumes, Quincas morre pela primeira vez na solidão de seu quartinho imundo. Tal fato detona todo o processo de reconhecimento e desconhecimento por parte da família “real” e da família adotada.
Sua família de sangue, após sua morte, tenta recuperar o prestígio social de Joaquim Soares, vestindo-o e rememorando seu passado exemplar. Mas a “nova” família, ao deparar-se com tal pompa, não reconhece o velho Quincas. Durante o velório, já embriagados, seus amigos levam o defunto para sua última farra e terminam a noite em um saveiro, onde Quincas morre pela segunda vez, ao cair ao mar, não deixando qualquer testemunho físico de sua passagem pela vida.

Releitura, vintage e retrô

A moda cíclica - roupas e acessórios que voltam depois de anos


Se não voltássemos no tempo de coleção em coleção, a moda seria uma loucura, com criações surreais e inimagináveis. Que pecado seria se não pudéssemos reaproveitar idéias de sucesso e recriar, dando cara nova ao estilo clássico e eterno. Pois este aspecto retrô da moda está a nosso favor. Pra começar, é um passaporte para uma viagem no tempo e podemos até entender um pouco mais de história quando atentamos para os detalhes exibidos em cada peça que vestimos. Mas, se a onda retrô está com tudo, vamos embarcar!
Falar em tendências num mundo tão diversificado é quase uma contradição. Pela rapidez de informações estamos sempre abertos a constantes mudanças culturais, aos sinais advindos das mais diversas áreas. Devemos aceitar essas diferenças e misturas, reler o passado, combinar materiais e texturas, recriando um estilo com uma linguagem contemporânea. Os desfiles do verão2008/09 foram a prova de que a releitura da moda está mais do que em alta. Itens até pouco tempo considerados bregas voltaram com tudo, fazendo uma releitura dos ícones da moda dos últimos 40 anos - do romantismo dos anos 50 até a moda grunge dos anos 90.

Depois do on line

A competição entre mídias aumenta. Os poderosos grupos de comunicação usam todos os meios para garantir e melhorar seu “negócio”. O que antes era considerado uma atividade boêmia e descompromissada, hoje é visto basicamente como business. Para assegurar o consumo, as mídias apelam para matérias sensacionalistas, prejudicando o conteúdo e a qualidade da informação. O reflexo disso: leitores alienados, desinformados e perdendo o senso crítico.

O advento da internet, a notícia 24 horas por dia, a incessante busca do on-line pelo “exclusivo”, “inédito” e o noticiário televisivo muitas vezes espetaculoso, contribuíram para as mudanças drásticas na forma de transmitir a informação do impresso. Não dá mais para o “velho jornal” ter um furo, por isso cabe ao impresso investir no aprofundamento dos fatos, “ser analítico, original e interpretativo”, como cita Álvaro Caldas.

“A não distinção do jornalismo na TV, sobre o que interessa ao público, e o que é de interesse público”, citado por Ricardo Noblat, vem afetando o jornalismo impresso. Oferecer ao leitor apenas o que ele quer, não é cumprir o dever do jornal, que é o de informar e conscientizar a população.

A maneira de trabalhar dos jornalistas mudou. A redação se modernizou. O jornal se informatizou. Contudo, o impresso sobreviveu. Os impérios - digital, do consumo e do dinheiro - tentaram, abalaram, mas não destruíram a essência do jornal diário.

Os áureos tempos da redação, a época da máquina de escrever, cigarros e jornalistas entrosados, amigos não retornaram, permaneceram apenas na memória dos que tiveram o prazer de desfrutar desses momentos.

Adaptações são necessárias no mundo corrido de hoje. Para sobreviver na era da globalização e digitalização não dá para manter o romantismo do jornalismo de outrora.