O que seria uma entrevista despretensiosa se tornou uma tarde inteira de muita conversa - desde fotografia, vocação, carreira e famosos até tatuagem, comida e analise.
No almoço Ernani d’Almeida pediu Cesar Salad com frango e suco de manga, contando o seu primeiro click. Aos 16 anos, com uma Pentax Spot 500 emprestada, fotografou uma prima para assim se aproximar da menina – na época era muito tímido.
Apaixonado por motos, já teve ao todo 34, fez vestibular para Engenharia – achando que ia mexer com a mecânica. Percebeu que não era sua praia e cursou Comunicação Visual e Desenho Industrial na PUC-Rio. Faltando dois períodos para se formar nas duas cadeiras- fazia as faculdades simultaneamente – largou tudo. “Foi uma estupidez da idade”, disse Ernani arrependido.
A primeira vez que ganhou dinheiro com fotografia foi quando trabalhou com o fotógrafo e cineasta Ricardo Nauemberg – na época seu colega de faculdade. A foto foi das filhas do Evandro Carlos de Andrade – diretor da TV Globo e do Jornal O Globo. Nesta mesma época teve certeza da sua vocação. “Foi saindo do antigo PAX em Ipanema, depois de ver Os olhos de Laura Mars que tive certeza que era isso que eu queria, eu queria ter um japonês trocando o diafragma pra mim (nas câmeras antigas o diafragma era manual), como no filme”.
Trabalhou na Manchete, na Desfile, no JB, na Caras, na Quem e hoje faz freelancer para Abril e trabalhos como o Paparazo. O escorpiano admira o fotojornalismo, mas não faz esse tipo de trabalho – “acho que nunca tive a rapidez necessária para ser um bom fotojornalista, a capacidade de perceber e isolar a notícia no tempo certo”.
Sua trajetória sempre esteve ligada ao trabalho com luz controlada, com gente e basicamente mulheres. Fez duas ou três matérias grandes de fotojornalismo, mas foram coincidências, acabou fazendo moda, sua formação é essa: moda e estúdio.
“Eu sou capaz de levar a pessoa a fazer o que quero, mas em situações absolutamente controladas, e normalmente mais a mulher do que os homens. Eu odeio o mundo real – quando eu dirigo uma foto e monto aquele ambiente eu crio o meu mundo minha realidade”.
Apesar de captar belas imagens masculinas, Ernani sente que não consegue construir uma imagem desejável de homens como consegue das mulheres. Para o fotografo, por ser homem, ele consegue captar movimentos e expressões próprias do sexo feminino.
Depois do almoço, no caminho a editora Abril – para assinar os papéis e receber pelo trabalho – muitas histórias de viagens com a Caras. Em seis anos foram três passaportes e muitos clicks. Foi numa dessas viagens que tirou sua melhor foto. No Castelo de Caras, em Brissac, na França, a fotografada era a atriz Irene Ravache.
Rumamos para um estúdio de fotografia para conhecer uma tecnologia nova de luz e mais prosa. Photoshop era o assunto. Ernani contou que usa, mas com moderação, para acertar as cores e o mínimo no corpo da mulher. Preferia antes, mesmo dando mais trabalho – quando a correção era manual feita no cromo ampliado ou nas chapas de cores.
Hoje o fotografo diz que espalha a infelicidade. “As mulheres querem ser mulheres que não existem, os homens querem mulheres que não existem e as modelos photoshopadas têm que cumprir com aquilo que está na revista, que também não é ela. Enfim todo mundo sai infeliz”.
Seguimos para a exposição das fotos do Alécio de Andrade no Instituto Moreira Salles e terminamos a tarde de entrevista com um café no Cafeína. Ernani contou sobre seu futuro livro – Os dois lados da notícia – ele vai fotografar atrizes que nunca posaram nuas e repórteres, produtoras, editoras, diretoras de arte e maquiadoras, mulheres que ficam por trás das lentes.
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