sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Resenha

A morte e a morte de Quincas Berro Dágua, é uma crítica azeda aos comportamentos burgueses. Misturando humor e ironia, narra a história de um funcionário público, pai e marido exemplar que ao se aposentar joga tudo para o alto e se transforma em um malandro que passa a viver entre a dita ralé de Salvador.
A trama desenvolve-se em torno de um povo simples e rude e é narrada numa linguagem que esse povo fala e entende. Neste contexto, Jorge Amado não preza o rigor e a técnica da construção literária, nem as normas gramaticais e ortográficas. Usa a linguagem oral, corriqueira, com expressões e termos regionais.
Descritivo ao máximo, mistura sonho e realidade; loucura e racionalidade; amor e desamor; ternura e rancor, de forma envolvente e instigante.
A drástica transformação do respeitado Joaquim Soares da Cunha no malando Quincas Berro Dágua representa o grito de um homem que vivia dominado e cerceado por preconceitos da sociedade burguesa e que um dia rompe as amarras e foge para a “liberdade”.
Cai na “vida”, no alcoolismo, na jogatina. Troca a família pelas prostitutas, bêbados, jogadores e contraventores. Sempre disposto a mais uma farra ou bebedeira. Ao adotar um novo estilo de vida, passa a ser mais feliz, respeitado e admirado entre seus novos amigos. Era o paizinho, sábio e conselheiro.
Ao renunciar à família, mudar de ambiente e de costumes, Quincas morre pela primeira vez na solidão de seu quartinho imundo. Tal fato detona todo o processo de reconhecimento e desconhecimento por parte da família “real” e da família adotada.
Sua família de sangue, após sua morte, tenta recuperar o prestígio social de Joaquim Soares, vestindo-o e rememorando seu passado exemplar. Mas a “nova” família, ao deparar-se com tal pompa, não reconhece o velho Quincas. Durante o velório, já embriagados, seus amigos levam o defunto para sua última farra e terminam a noite em um saveiro, onde Quincas morre pela segunda vez, ao cair ao mar, não deixando qualquer testemunho físico de sua passagem pela vida.

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